sábado, 26 de março de 2011

Conversa sem diálogo: eu, amor.

Deitei do lado direito da cama e ele do esquerdo. Ambos recostados em nossos próprios braços, nos encaramos.
Ele piscava languidamente pra mim, então com a minha mão livre passei as costas dos meus dedos em seu rosto refazendo todo seu traçado, memorizando e eternizando sua forma em minha mente. Maxilar, queixo, bochecha, lábios... Seus olhos me olhavam sério, bem no fundo da minha pupila dilatada, como se quisesse descobrir o que elas queriam dizer.
Eu queria ser menos amor.
Afastei minha mão e virei o rosto para o teto imaginando no que aquilo iria dar. Mas sua mão recostada encontrou a minha de surpresa. Ele a acariciava, enquanto ainda olhava atento aos meus olhos. E eu não consegui.
Meus poros exalavam amor, meu suor transpirava amor, todos os fios do meu cabelo, todas as minhas terminações nervosas vibravam naquela paixão culminante.
Eu era amor do começo ao fim.
Fechei os olhos, esperei que assim como o mar, a maré baixasse, a calmaria chegasse.
Mas quando finalmente abri um olho para bisbilhotá-lo e, logo depois o outro, percebi que ele sorria para mim. O tipo de sorriso sincero, o desenho perfeito e longínquo, que você espera a vida toda para ver.
Daí minha maré transbordou, daí eu nunca mais parei de ser amor.

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